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Dona M.

Dona M. foi a minha primeira "paciente" juntamente com o seu marido, o senhor G. . No meu primeiro mês na faculdade de medicina fomos destinados a uma família a qual acompanharíamos ao longo do curso. Eu "adotei" esse casal de idosos, não tinham nenhum problema a não ser os que acompanham a velhice, uma pressão alta aqui, uma dorzinha lombar ali. Entretanto, o que me marcou foi ouvir suas histórias. Um casal que conquistou tudo juntos e trabalhando muito. Um romance que ensinou dona M. a ler, pois ela juntava as letras das cartas de amor que o seu G. escrevia e ia formando palavras e frases até que se alfabetizou e hoje é uma grande fã das literaturas. Um dos motivos de escolher a medicina foi esse, além de aliviar a dor, poder conhecer a história de cada pessoa que passa pela minha vida.

Oração ao Cadáver Desconhecido

Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te de que este corpo nasceu do amor de duas almas; cresceu embalado pela fé e esperança daquela que, em seu seio, o agasalhou, sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi amado e sentiu saudades dos outros que partiram, acalentou um amanhã feliz e agora jaz na fria lousa, sem que, por ele, se tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome só Deus o sabe, mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir a humanidade que por ele passou indiferente.  (Karel Rabistansky, 1976)